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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Pondé e a insustentável banalidade do ser

No último texto vimos como Pondé, comentando o pipocão ecologético de James Cameron,  acertara na mosca ao enxergar no filme traços de um fundamentalismo ecológico de fundo romântico (que ele chamou, em termos “politicamente” incorretos, de “romantismo para retardados”, o que muito nos alegrou). Contudo, no elogio que teceu ao filme de Lars Von Trier, Pondé escorregou feio no tomate e nos revelou, por assim dizer, a natureza intrinsecamente brega que povoa a alma humana. Acontece que o filme de Lars Von Trier, assim como o filosofar de Pondé, é extremamente pretencioso. Pretensão de autenticidade: assim defino o conceito de “brega” aqui aplicado ao filósofo. E ao filme, é claro. Pois Lars Von Trier, que pelo visto é muito menos astuto do que James Cameron, não percebeu que o cinema autoral morreu – ao menos nos moldes “tarkovskianos” que ele tenta ressuscitar. Insisto nesse ponto: o filme transpira “bregosidade”. Provam isso o hit de música clássica (“lascia chio pianga”, da ópera Rinaldo, de Händel) que já fora utilizado no lamentável “Farinelli" (1994) e os clichês que povoam o filme, como “a casa na floresta” e os “animais falantes”, que “resgatam o conteúdo mítico” (para usar o jargão psicanalítico pós-freudiano) das fábulas e dos contos de fadas. Se fôssemos tolos o suficiente, poderíamos agüir que os três animais mágicos seriam no fundo manifestações arquetípicas. E teríamos muito capim místico para mastigar.

Além do mais, ainda que não fosse “intrinsecamente” brega, o filme “Anticristo” mereceria, pela própria pretensão, uma análise formal mais cuidadosa. Coisa que Pondé não faz. Em vez disso, faz alusões teológicas muito pouco precisas e por vezes incorretas. Como conciliar a “riqueza teológica” de Agostinho com a pobreza de um comentário como “sua natureza era intrinsecamente má”? Afinal, para Agostinho, como sabem os teólogos, o mal era desprovido de substância (cito: "O mal não possui uma natureza negativa, mas a perda do bem recebeu o nome de mal”, Confissões). Trata-se certamente de um deslize, afinal, Pondé não é intrinsecamente mau e parece ter lido Agostinho melhor do que muita gente. Entretanto, não custa nada recomendar-lhe mais rigor científico (e a ironia contida nessa afirmação é sintomática do próprio posicionamento do “filósofo Daslu” que é Luiz Felipe Pondé).

Ao tentar voar com asas gigantes, ou seja, ao tentar positivar seu conservadorismo, Pondé expõe seu lado brega e se torna motivo de troça. A inexorabilidade da banalidade é tema do filme satírico “Queime depois de ler” (2008) dos irmãos Cohen. Nesse filme, que não pede nenhum tipo de crítica séria, a idiotice age como uma espécie de conceito teleológico hegeliano, provocando desenlaces patéticos e dissolvendo num mesmo caldo insosso de banalidade todas as motivações que os personagens porventura apresentem. Como uma corte diante de seu bufão, rimos de nós mesmos ao assitir ao filme dos Cohen.

De resto, transcrevo a seguir frases pretenciosamente “poéticas” do filósofo que, como todos nós, como dizia meu tio, “às vezes põe o do Wando na vitrola”:



O intróito:





“Não um jardim do Éden onde a natureza é essa criação romântica sem dor, mas uma escura câmara de terror, cheia de gemidos e solidão.”



E o Gran Finale:



“A personagem feminina carrega em si toda a tragédia que é ter sido aquela que pressentiu o hálito do mal no mundo e em si mesma. Façamos silêncio em respeito a ela.”



Convenhamos: “gemidos e solidão”? “Façamos silêncio em respeito a ela?” Felizmente esse oponente pode mais do que isso... estimo melhoras!

6 comentários:

Anônimo disse...

Só tenho uma palavra para dizer: insensibilidade poética.

Anônimo disse...

Gostei do texto e da crítica, ao filme e ao comentador da folha

Anônimo disse...

O sujeito quer criticar um filosofo da religiao da estatura de Luis Felipe Ponde escrevendo "pretenciosamente" com 'c'.

Coisas de um Brasil bem brasileiro. Nem sequer conhece o vernaculo, e quer se meter a escrever com os "adultos".

Uma pena.

Anônimo disse...

Pobre flor do Lácio,pisoteada pelo vulgo inculto....

Rogério Viana disse...

Conheci o blog hoje, após procurar algo mais sobre Pondé na internet que não fosse babação de ovo. Vi que este último post foi em fevereiro. O blog foi desativado?

cronopio disse...

Olá, Rogério. Não consegui mais seguir com o blog porque cheguei à conclusão de que Pondé não acredita no próprio discurso. Claro que posso estar enganado, mas, sendo esse o caso, não haveria sentido em continuar analisando seus textos. Acho, no fundo, que muita gente que elogia o Pondé nem sequer presta atenção ao que ele diz. Simpatizam com a figura dele, e ponto. Ele é uma personalidade. Ficar horas analisando as inconsistências de um autor que nem pretenda nem precise ser coerente não parecia muito promissor. Senti que estava caindo na armadilha. Por isso parei com o Blog.